sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Progresso e Religião



Por: Francisco Razzo

"A religião é como o seio no qual tem origem os germes da civilização humana.” (Durkheim)

Em “Progresso e Religião”, obra das mais importantes do filósofo Christopher Dawson, encontramos uma análise sobre qual o verdadeiro substrato da cultura e o que a faz progredir. Sua tese é a de que uma cultura somente pode prosperar quando retira seu dinamismo da religião, pois ela fornece direta ou indiretamente o arcabouço intelectual da sociedade, indo desta forma contra o determinismo histórico vigente no século XIX e propondo uma visão espiritual da história.

Primeiro, o autor usa elementos de sociologia, história e antropologia em seu argumento contra a ideia do progresso pautada por fórmulas idealistas ou somente por transformações materiais. Sua crítica à teoria do progresso de Spengler ou da visão histórica de Hegel, bem como de interpretações históricas baseadas no racionalismo científico tais como a de Auguste Comte e do darwinismo social são exemplos disso. As visões determinísticas propostas por estas correntes do pensamento não dão espaço para o maior agente do progresso cultural: o espírito humano.

A partir do momento em que se questiona sobre as forças da natureza e suas transformações buscando causas para explicar o mundo, o homem torna a ciência e a filosofia possíveis. Mas é da religião, que existe como explicação de toda realidade, do mundo físico à moral, além dos movimentos do espírito, que o homem retira suas principais categorias cognitivas e, portanto, é a partir da visão religiosa que ele busca compreender o mundo que o cerca.

Partindo disso, o autor demonstra historicamente que os momentos de progresso cultural coincidem com o florescimento ou a reaproximação das grandes religiões. Também demonstra como as épocas em que houve afastamento ou declínio da religião dominante foram épocas decadentes.

Essa tese é posta à prova na história do ocidente. Dawson analisa o surgimento do cristianismo e seu efeito como único elemento capaz de conferir unidade cultural a uma Europa medieval fragmentada politicamente; bem como seus próprios renascimentos culturais como o carolíngio e o franciscano a partir de reaproximações com a mensagem original, ou as formas do renascimento fora da Itália a partir da reinterpretação do cristianismo pelos povos nórdicos e germanos. Também mostra como certas doutrinas que serviram de substrato cultural em momentos mais recentes na história européia, tal como a crença no progresso, retiraram sua base do pensamento religioso.

Por fim, o que gerou a atual decadência pela qual passa a cultura ocidental desde a segunda parte do século XIX foi a tomada de algo secundário à nossa cultura como fator principal. A tradição científica herdada dos gregos antigos teve papel preponderante na história européia por servir de impulso interno na cultura impossibilitando que ela se tornasse imóvel como as civilizações orientais em geral. Todavia, esta “religião da ciência” é incapaz de fornecer a base espiritual que o cristianismo forneceu à Europa e evitar a fragmentação e o enfraquecimento cultural sofrido pelo continente europeu desde que este retirou o elemento espiritual expresso na religião cristã como centro de sua cultura, trocando-a por uma fé no futuro.


...

Nenhum comentário:

Postar um comentário