segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Educação e formação do homem na Grécia Antiga


Por: Rodrigo Peñaloza

Na tradição clássica grega, a educação do Homem distingue-se da sua formação. A educação possui um conteúdo moral e prático, é o veículo de transmissão de mandamentos morais e religiosos, regras de prudência e conhecimentos específicos às aptidões profissionais, aquilo a que os gregos chamavam τέχνη (téchne). Já a formação se direciona para a integralidade do Homem, seu comportamento exterior e sua atitude interior, ponto muito bem abordado por Werner Jaeger em Paideia.

A formação é a manifestação da virtude, palavra que apenas imperfeitamente traduz o termo ἀρετή (areté). A ἀρετή (areté) é um atributo da nobreza, dos melhores ou ἄριστοι (áristoi), superlativo plural de ἀγαθός (agathós), bom, e não designava apenas a destreza guerreira ou o heroísmo viril (significado que passou ao Latim pela palavra virtus, donde deriva o termo virtude), mas designava também o sentido de dever para com a cidade, a retidão de comportamento, o cavalheirismo e a agudez intelectual. A formação dizia respeito principalmente à ação e à nobreza de espírito, ao domínio da palavra como soberania do espírito.

Diz Homero, na Ilíada, sobre a educação e formação de Aquiles: “Por isso ele me enviou para ensinar-te todas essas coisas, ser um falante de palavras e um realizador de ações” (τοὔνεκά με προέηκε διδασκέμεναι τάδε πάντα, μύθων τε ῥητῆρ᾽ ἔμεναι πρηκτῆρά τε ἔργων) [Homero, Ilíada, livro 9, vv. 442–443]. Logo mais adiante explica-se o objetivo da formação do Homem grego, que é “sempre ser o melhor e ser proeminente entre os outros” (αἰὲν ἀριστεύειν καὶ ὑπείροχον ἔμμεναι ἄλλων). Isso cabia ao aristocrata, cujo ideal era ser não só um guerreiro e um cidadão completo, mas também um cavalheiro com absoluto domínio da palavra e aguda inteligência.

No Brasil, a educação escolar não pode ser chamada Educação no sentido grego, muito menos Formação. O jovem se forma e não tem amor à Pátria; não conhece sua herança cultural; não fala a própria língua nem conhece sua ascendência greco-latina; não domina a Palavra escrita e se expressa mal com a falada; faz sucumbir, impensante, sua dignidade à promiscuidade do carnaval; não compreende o valor da Liberdade e a importância da Pólis, que, hoje, é o País; menospreza a disciplina militar e enaltece a libertinagem e o desrespeito; não faz contas de cabeça; não vê beleza na Matemática e na Poesia; não lê os livros clássicos nem os grandes escritores nacionais; não é cavalheiro; não é gentil; sofre as penas impostas pelos maus governos e não os derruba nem exila os políticos que se sonham ditadores; faz baderna por 20 centavos e se cala frente aos impostos. A corrupção lhe dói menos que uma derrota no futebol.

Diz a história que dois oficiais militares inimigos, um alemão e outro grego, perdidos dos campos de batalha gregos durante a Segunda Guerra, se encontraram sem querer. O grego recitava Homero e o alemão o ouviu. Nesse instante o alemão, lembrando sua formação clássica, inspirado pelos trechos recitados, aproximou-se do inimigo e continuou a recitação, um alternando com o outro. Dois inimigos de guerra unidos pelo amor comum à Mãe cultural dos povos ocidentais: a Grécia. Esse foi um momento em que a Educação e a Formação gregas mostraram que a Civilização ainda sobrevive qual flor no pântano da modernidade.



....

Um comentário: